(Abril de 1500)
Na tarde de 22 de Abril de 1500, uma expedição comandada pelo português Pedro Álvares Cabral avistou terra. Depois de quase um século de expedições marítimas ao longo do oceano Atlântico, os portugueses chegavam naquele momento, a um continente desconhecido para eles. Entretanto ainda não sabiam disso.
A expansão portuguesa se fazia em direção às Índias. No ano de 1498, o navegador Vasco da Gama chegou à cidade de Calicute. Sua volta a Lisboa comprovou a alta lucratividade das viagens dos portugueses. As especiarias renderam mais de seis mil por cento em relação ao investimento inicial.
O rei português, D. Manuel, o Venturoso, ordenou a preparação de uma segunda expedição, com treze navios e 1 200 homens. A esquadra, sob o comando do fidalgo Pedro Álvares Cabral, era tida como uma das mais importantes na empresa marítima portuguesa.
A grande armada de Cabral partiu de Lisboa e, no litoral africano, desviou-se da rota de Vasco da Gama. No dia 22 de Abril de 1500, os portugueses chegaram ao litoral da América do Sul. Aportaram numa baía a que chamaram de Porto Seguro. A região descoberta foi batizada de Ilha de Santa Cruz.
Riquezas e lucros era o que Portugal queria nas novas terras que acabava de tomar. Essa intenção ficou clara no relato de Pero Vaz de Caminha fez em sua carta ao rei de Portugal:
Nela, até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro (?) Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados, como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo de agora assim os achámos como os de lá.
Águas são muitas; infindas. E em tal maneira e graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.
trecho: Carta de Pero Vaz de Caminha. In: PEREIRA, Paulo Roberto, org. Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro, Lacerda, 1999.
Cabral voltou com sua esquadra ao caminho anterior, isto é, em direção das Índias. Estava consolidado e assegurado o domínio português sobre essa nova rota e sobre as Índias. Os lucros proporcionados pela viagem de Cabral superaram em mais de duas vezes as despesas e investimentos iniciais.
A primeira fase da colonização portuguesa
Nos primeiros anos, as terras recém-incorporadas à Coroa portuguesa pouco tinham a oferecer aos interesses comerciais de Portugal. Os nativos não produziam nada parecido com as procuradas especiarias das Índias. Além disso, eram povos que não produziam excedentes para o comércio. Por essa razão, os portugueses só se preocupavam em fazer o reconhecimento do litoral das novas terras e manter os curiosos e interesseiros navios franceses e espanhóis afastados.
Dessa forma, mesmo não tendo interesse imediato nas novas terras, Portugal não permitia que outras nações colonialistas se apoderassem desse território.
A França não reconhecia o Tratado de Tordesilhas, segundo o qual as terras ?descobertas? seriam divididas entre espanhóis e portugueses, e, que queria apossar-se de parte da colônia portuguesa. Os navios franceses rondavam constantemente a costa do Brasil, entrando em contato com os indígenas para explorar as riquezas que a colônia poderia oferecer. Qual seria essa riqueza naqueles tempos?
Desde a Idade Média, as manufaturas da região de Flandres (entre Holanda e Bélgica) tingiam os tecidos com púrpura, corante extraído de um molusco, e com a tinta obtida de uma árvore. Essa árvore, conhecida como pau-brasil, por ser vermelha como brasa era abundante nas nossas matas litorâneas.
Pouco a pouco, Portugal foi-se voltando para a exploração desse recurso. Apesar de os negócios com o pau-brasil nunca alcançarem o mesmo volume daqueles realizados com as Índias, a Coroa estabeleceu o monopólio da exploração da madeira: somente as expedições oficiais poderiam cortar, transportar e comercializar o produto.
As primeiras expedições exploradoras
As primeiras expedições que aqui chegaram não eram empreendimentos com fins lucrativos ou colonizadores. Entre 1501 e 1502, chegou uma expedição com o objetivo de reconhecimento geográfico e, ao mesmo tempo, de pesquisar as possibilidades de exploração do pau-brasil. Américo Vespúcio, o navegante italiano cujo nome batizaria o continente, veio ao Brasil nessa primeira viagem e escreveu que nada aqui poderia interessar aos comerciantes da Europa.
Em 1503, o Brasil foi visitado por outra expedição sob o comando de Gonçalo Coelho, também acompanhado de Américo Vespúcio. Nos anos seguintes vieram outras, sob a direção de Fernando de Noronha, com o objetivo de organizar a exploração do pau-brasil.
Mas somente depois de 1516 que as expedições, sob o comando de Cristóvão Jacques, organizaram-se mais sistematicamente. Assim que chegaram ao litoral do atual estado do Pernambuco, os portugueses fundaram uma feitoria na região. De lá partiram em missão de reconhecimento do litoral brasileiro até o rio Prata. No dizer do historiador Sérgio Buarque de Holanda, o feito principal de Cristóvão Jacques deve ter sido o de observar e estorvar, se necessário, os castelhanos em suas explorações nesta parte do continente.
O escambo
A exploração do pau-brasil (ibirapitanga, em tupi) requeria um trabalho bem simples e sem especialização. O caráter predatório da extração do pau-brasil contribuiu para a destruição das florestas do litoral brasileiro.
Tanto portugueses como franceses utilizavam-se do trabalho indígena no auxílio à extração das pesadas toras das florestas, pois as tripulações dos navios não eram suficientes para essa dura tarefa. Em troca do trabalho, os europeus davam aos índios produtos manufaturados de baixa qualidade (tecidos, bijuterias etc) e, principalmente, instrumentos de metal, com os quais os indígenas cortavam as árvores. A esse comércio simplificado, sem a intermediação monetária, da-se o nome de escambo.