Em Benjamin, cinema e experiência: a flor azul na terra da tecnologia, Miriam Hansen analisa e aponta críticas, trazendo diversas teorias, sobre o tratado de Walter Benjamin A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. O texto do autor alemão discute a arte no cerne da revolução industrial, da retirada do homem do campo para a cidade e da criação do cinema, onde este seria um reflexo histórico de sua época. É a partir desse quadro que Benjamin pondera suas críticas e análises acerca do fazer cinematográfico, muitas vezes comparado a fotografia (vale lembrar que a teoria cinematográfica era algo em construção, com várias técnicas emprestadas do teatro e da própria fotografia).
O cinema, considerado um fenômeno cultural é tratado desde o seu cerne, com o cinema de atrações, onde os nickelodeons (grandes armazéns adaptados para a projeção de filmes onde o ingresso era um níquel, menos de cinco centavos de dólar) eram a principal expressão. Nesse período inicial, não existe forma, mas sim uma tentativa de fascinar através de histórias simples e lúdicas, como em Viagem à lua de Georges Méliès.
"Essa expressão oferece um conceito histórico do público espectador, que se orienta pelas modalidades de fascinação [...] que se alimenta do poder mágico e ilusionista da representação cinematográfica".
Essa será uma das maiores e mais fortes críticas de Benjamin, que ao ser uma arte mecânica, produzida por engrenagens, o cinema não seria uma arte pensante, com a aura necessária para ser contemplado ou apreciado. Adorno, membro da Escola de Frankfurt, onde fenômenos culturais foram amplamente estudados, daria uma definição bem clara a cerca do que é a aura:
"Aura, que pode ser entendido como a atmosfera que a obra de arte pode mostrar para o seu espectador, que lhe dá um valor especial. A arte responde a uma necessidade da sociedade, primeiramente foi religiosa, desejando aproximar-se do sagrado, transcendendo as limitações humanas. No entanto, esta aura foi perdendo o seu valor e hoje a aura artística é associada à instituição e à importância histórica das obras do passado".
Para Benjamin, faltaria essa aura para o cinema. Hansen entende que essa crítica do autor (que varia entre positiva e negativa) é devido a possíveis oportunidades perdidas e promessas não realizadas do cinema. A norma da reprodutibilidade abalou a tradição cultural que extraía legitimidade da vivência da arte. Entre o receio com a nova forma de se produzir arte (como já dito por sua mecanização e pela ideia de que a máquina dominava o homem, o prendia e o manipulava) e o fascínio com a nova tecnologia, Benjamin destaca algumas obras que iriam contra essa dominação da massa, como O encouraçado Potemkin e O homem com uma câmera:
O cinema torna-se uma expressão em que as estruturas tradicionais de classe caem por terra, onde esse teor de revolução transforma a percepção do olhar, interpretando a própria realidade e a própria ilusão, uma representação da vida na tela. Não só como arte de massa (e aí entra a discussão de que talvez o cinema não tenha sido levado a sério em um primeiro momento por esse motivo), mas como arte reflexiva, que analisa o mundo ao nosso redor, trazendo de forma ilustrada as agonias da vida e os pontos mais inconscientes da psique humana.
No que cerne o questionamento se o cinema seria arte ou não, podemos considerar que essa questão há muito já foi respondida e o título de sétima arte não é à toa. A pergunta que se faz agora, 80 anos depois da primeira publicação de A obra de arte é como podemos indicar o que seria um cinema de arte. Em época de um cinema de atração, com o massivo número de obras sobre super heróis e fantasias, poderíamos considerar esse tipo de filme, arte? Ou deveríamos nos voltar ao conceito de que só poderíamos considerar obras que tenha diretores conceituados e que ultrapassa o cinema comercial? A resposta ainda está em construção, principalmente se refletimos que nem tudo que se propõe ser conceitual toca. Nem sempre Persona vai ser tocante e nem sempre Harry Potter vai ser só uma fantasia vazia.
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