Para os negros do Haiti, a independência significava antes de mais nada o fim da escravidão. Para outros povos oprimidos, como os índios e os mestiços do México e do Peru, significava sobretudo o fim dos serviços obrigatórios gratuitos e dos maus-tratos a que eram submetidos nas fazendas e minas. Tinham ainda de pagar impostos para a Espanha e o dízimo para a Igreja. Como não ganhavam o suficiente para pagar nem as mercadorias de que necessitavam nem os impostos, acabavam pagando com serviços. A discriminação que sofriam por parte dos brancos tornava sua vida ainda mais difícil.
Em fins do século XVIII, nas terras do atual Peru, um mestiço chamado, José Gabriel Condorcanqui liderou a revolta contra essa situação. Descendente de uma antiga família inca, José Gabriel, que era muito respeitado entre os nativos, tornou-se conhecido como Túpac Amaru, nome do último imperador inca.
A Revolta de Túpac Amaru foi um movimento popular que teve a participação de mais de 50 mil pessoas, entre índios, mestiços e poucos criollos.
O movimento estendeu-se por várias regiões do Vice-Reino do Peru. Os rebeldes obtiveram vitórias significativas contra as forças coloniais no Peru, mas acabaram derrotados. Em 1781, Túpac Amaru foi degolado e esquartejado na praça central da cidade de Cuzco.
Vários fatores contribuíram para a derrota, sobretudo a inferioridade bélica e a falta de apoio da maioria dos criollos. Os criollos eram contrários ao domínio espanhol, mas apesar disso desejavam manter a exploração do trabalhador indígena. Até hoje há controvérsias entre os historiadores sobre os objetivos dessa revolta. Para alguns, os rebeldes desejavam apenas a melhoria das condições de vida dos índios e mestiços; para outros, foi uma luta pela independência.
Enquanto os negros do Haiti lutavam por liberdade e os índios de Peru exigiam o fim da exploração dos trabalhadores, no México os camponeses, liderados por padres humildes, clamavam por terra para plantar.
Independência com divisão da terra entre os pobres foi o que moveu os camponeses mexicanos a lutar sob a liderança dos padres Miguel Hidalgo e José Maria Morelos. Apesar de serem padres, esses líderes proclamavam que as terras da Igreja também deveriam ser divididas entre os pobres.
Em 1810, um exército de camponeses pobres liderado pelo padre Hidalgo sublevou-se (revoltou-se) carregando estandartes de Nossa Senhora de Guadalupe, uma Virgem mestiça, morena como milhões de nativos do México. Hoje, a Virgem de Guadalupe é um símbolo do México.
Os rebeldes conquistaram algumas cidades, mas acabaram derrotados. Hidalgo foi fuzilado por ordem dos criollos e chapetones, que se uniram para reprimir o movimento, que punha em risco seus privilégios.
A luta foi retomada em 1812, sob a liderança do padre Morelos. Os revoltosos chegaram a tomar o poder e a romper com a Espanha. Uma vez mais, porém, a elite criolla uniu-se aos espanhóis e massacrou os rebeldes. O padre foi morto em combate.
A independência do México
A opressão da Espanha sobre suas colônias na América aumentou a insatisfação entre indígenas e africanos, mas provocou também a reação dos ricos criollos.
Eles não suportavam mais os altos impostos, a proibição de ocuparem cargos elevados e sobretudo a obrigatoriedade de comerciar apenas com a metrópole.
O mais importante para os criollos era a obtenção da liberdade de produção e de comércio, e esse foi o motivo principal de seu desejo de independência.
Quando, no final do século XVIII, a Espanha aumentou o controle sobre suas colônias, os criollos começaram a se interessar pelas ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, que chegavam da Europa em livros contrabandeados.
No México, o rompimento com a Espanha teve um caminho singular: na repressão aos movimentos camponeses, as autoridades espanholas confiaram o comando das tropas ao coronel Augustin Itúrbide, que havia se destacado na luta contra o padre Morelos. O ambicioso coronel aproveitou-se da situação para fazer com os camponeses um acordo: o qual nunca iria cumprir: e proclamar a independência do México, sagrando-se imperador com o nome de Augustin I (1812). Dois anos depois, a elite criolla tomou o poder e proclamou a República.
BOULOS JUNIOR, Alfredo. coleção História Sociedade & Cidadania. ensino fundamental.