Método flamengo de pintura
Artes Plásticas

Método flamengo de pintura


*Baseado no livro de Virgil Elliott, Traditional Oil Painting

O método flamengo de pintura foi criado pelos precursores do uso da tinta à óleo na pintura de cavalete. Antes do uso generalizado do óleo de linhaça, os artistas da Idade Média e do Renascimento pintavam principalmente com a têmpera, que é uma pintura feita à base de gema de ovo e pigmento. Antes disso, na Antigüidade, usava-se encáustica. Entre os precursores do uso do óleo, podemos contar os irmãos Van Eyck e Rogier van der Weyden.

Exemplo de trabalho à têmpera: Mantegna. Lamentação sobre o Cristo morto. c. 1490. Têmpera sobre tela, 68 x 81 cm.


Rogier van der Weyden foi um dos precursores no uso da tinta à óleo, e um dos melhores expoentes do método flamengo de pintura. Van der Weyden. Tríptico da família Braque (painel central). Óleo sobre madeira, 41 x 68 cm.

As principais carecterísticas do método flamengo é a produção de superfícies muito lisas e o uso de veladuras na pintura.
As superfícies que os artistas flamengos usavam para pintar eram painéis de madeira, em geral de carvalho, que é muito resistência e existia em abundância na Europa. Esse painéis eram feitos de várias tábuas coladas ou pregadas transversalmente no reverso uma do lado da outra e lixadas até obter-se uma superfície lisa e homogênea. A Mona Lisa, por exemplo, é pintada sobre um painel de madeira, como em geral quase todas as pinturas do Renascimento, antes da popularização da tela.
Sobre esse painel era aplicada uma preparação feita de gesso e cola. O gesso é um produto da gipsita, que é um mineral encontrado na natureza. As colas podiam ser feitas a partir de várias matérias diferentes, mas a tradição elegeu a cola de coelho como a melhor.
Gipsita.
Estando pronta a preparação, o artista aplicava o desenho sobre gesso. Contudo, antes disso, a composição era toda preparada antes, por meio de diversos estudos e desenhos. O desenho final, bastante linear, era realizado sobre um papel do tamanho da tela final. Esse desenho podia ser transferido para o painel de diversas formas: perfurando-se ou traçando-se sobre os contornos, e depois colocando o papel sobre a tela e batendo com uma meia cheia de pó de grafite sobre os buracos; ou espalhando pó de carvão atrás do papel ou uma mistura de pigmento e óleo ou verniz, e traçando por cima do desenho como num papel-carbono. Um terceiro método, usado principalmente se o desenho fosse realizado numa escala menor que o desejado, era o gradeamento do desenho.
Exemplo de desenho perfurado para transferência. Leonardo da Vinci. Retrato de Isabella d'Este (detalhe). 1500. Giz sobre papel, 63 x 46 cm.


Exemplo de gradeamento de desenho. Apesar de gradeado, esse estudo não foi aproveitado an versão final da tela. Jacques-Louis David. Estudo para a coroação de Napoleão.

Assim que o desenho tivesse sido transferido para o painel, o artista iria reforçá-lo ou fazer as alterações que achasse necessárias. Ele usaria nanquim ou nanquim bastante diluído, têmpera, tinta à base de cola, aquarela ou óleo, e a tinta seria aplicada com um pincel de marta pequeno e pontudo. O desenho seria deixaria secando até ficar completamente seco.

Exemplo de desenho transferido por gradeamento e coberto com tinta de caneta tinteiro. Marcelo Gonczarowska. Estudo para o Flautista. 2009. Tela, 60 x 50 cm.

O desenho era então isolado com uma camada de selante (que podia conter pigmento, óleo, resinas, bálsamos etc), pois o gesso é muito absorvente. Caso o artista agregasse cor ao selante essa camada seria chamada de imprimatura. O artista deixaria então essa camada secar.

Exemplo de tela imprimada pelo artista russo Alexei Antonov.


Quando a imprimatura estivesse seca, o artista poderia seguir dois caminhos: trabalhar as sombras de forma transparente ou aplicar os tons médios sobre as grandes áreas, em camadas finas.

Neste estudo, a base para a pintura da mão esquerda foi feita com o Terra de sombra crua (raw umber). Marcelo Gonczarowska. Estudo para o Flautista. 2009. Óleo sobre tela, 60 x 50 cm.

Alguns pintores usavam uma base de pintura feita de têmpera, para ajudar a estabelecer as formas antes de pintar sobre elas com óleo. A base podia ser monocromada ou colorida.
Uma dessas bases ficaria conhecida como verdaccio, uma técnica herdada da pintura à têmpera: a base seria realizada num verde terroso, para representar as sombras. A intenção era neutralizar um pouco os tons de vermelho, amarelo e rosa que viriam por cima.

Exemplo moderno de uso de verdaccio. Contudo, a técnica aqui está sendo aplica incorretamente, pois o artista cobre toda a imagem com o verde, e não apenas as sombras.

?Em resumo: ?o método flamengo consiste em pintar sombras transparentes e luzes opacas sobre um desenho linear preciso em rígidos painéis de madeira preparados com branco puro.? [Virgil Elliott]



Para quem ficou curioso, aí está a mão terminada.




E aqui a versão final, com as unhas dos pés pintadas.


Pinturas realizadas no método flamengo:

Jan Van Eyck. Anunciação. 1436. Óleo sobre madeira, 39 x 24 cm

Jan van Eyck. Casal Arnolfini. 1434. Óleo sobre madeira, 82 x 60 cm


[Marcelo Gonczarowska Jorge]



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