Tudo o que se sabe sobre a vida de Jesus está registrado em quatro livros chamados Evangelhos. Foram escritos algumas décadas depois da morte de Jesus, e seus autores de basearam em relatos que ouviram de outras pessoas. Referências à crucificação de Jesus também podem ser encontradas em textos de Flávio Josefo e de Tácito, dois historiadores não cristãos que escreveram décadas após o acontecimento.
Segundo contam os Evangelhos, (palavra que quer dizer ?boa nova? ) os pais de Jesus eram Maria e José, um simples carpinteiro. Eles moravam em Nazaré. Maria estava grávida de Jesus quando ela e José tiveram de ir a Belém para participar de um recenseamento (contagem dos habitantes de um território). Belém era uma província do Império Romano, sob o governo de Augusto. Foi aí o nascimento de Jesus. Belém e Nazaré eram cidades da Judéia. Belém ainda existe com o mesmo nome e situa-se na atual Palestina. Na época, o rei da Judéia Herodes era um aliado dos romanos.
Anunciação (c.1437), obra de Fra Angelico (1387-1455), frade dominicano e pintor do Renascimento na península Itálica. Nessa obra banhada por luz suave, o anjo Gabriel, à esquerda, inclina-se respeitosamente diante de Maria para anunciar que ela será mãe de Jesus
As pregações de Jesus
De acordo com os Evangelhos, a vida de Jesus mudou completamente quando ele completou 30 anos. Nesse momento, saiu de casa e passou a viver sem residência fixa, pregando em diversos lugares.
Sobre a infância e a adolescência de Jesus os Evangelhos informaram apenas que ele aprendeu a profissão do pai que costumava ir com José e Maria ao templo de Jerusalém. Em certa ocasião, ele se perdeu dos pais, que só o encontraram dias depois, no templo, discutindo com os sábios os ensinamentos dos textos sagrados.
Em seus sermões, Jesus destacava a importância da solidariedade paz e amor ao próximo. Ao propor um novo caminho para a convivência entre os seres humanos, Jesus começou a reunir adeptos em torno de si. Entre esses seguidores, escolheu doze apóstolos (pessoa que divulga, espalha uma crença), que passaram a acompanha-lo.
Segundo os Evangelhos, Jesus impressionava com palavras simples, pois usava textos difíceis para ensinar. Um de seus recursos mais usados eram as parábolas (história que representa uma coisa para dar idéia de outra e da qual se pode tirar ensinamento).
As palavras de Jesus contra a prática do comércio no interior das casas de oração e sua enorme popularidade logo provocaram a ira dos sacerdotes. Os evangelhos descrevem os sacerdotes dessa época como pessoas hipócritas, falsas, autoritárias. Ao contrário deles, Jesus é descrito como uma pessoa que pregava o amor ao próximo, o desapego aos bens materiais, a transparência e a sinceridade.
Ao atrair multidões de pessoas com sua mensagem, Jesus deixou as autoridades da região desconfiadas e temerosas. Elas sabiam que um líder com tanta influência sobre as pessoas poderia ameaçar seu poder. A desconfiança aumentou mais ainda quando o próprio Jesus disse que era ?rei dos judeus?.
De acordo com os Evangelhos, os sacerdotes tomaram então a decisão de denunciar Jesus às autoridades romanas que ocupavam a região. A base da denúncia era que Jesus se dizia rei. Era véspera de Páscoa (festa judaica que relembra a saída dos hebreus do Egito) quando Jesus traído por Judas , um dos apóstolos, foi preso e levado a julgamento diante de Pôncio Pilatos.O povo incitado pelos sacerdotes pediam a condenação de Jesus. O governante romano, depois de interrogar Jesus, não encontrou motivo de preocupação. Chegou a lavar as mãos num gesto simbólico, dizendo: ? Sou inocente do sangue deste homem?.
Mas viu que as autoridades judaicas queriam livrar-se dele, tendo inclusive o apoio de uma multidão de pessoas para a ocasião, Pilatos decidiu condenar Jesus à morte, como queriam os sacerdotes judeus. E assim foi feito. Jesus morreu crucificado numa sexta-feira.
Após sua morte, os doze apóstolos que Jesus havia recrutado, Judas Iscariotes, enforcou-se após ter traído Jesus em troca de dinheiro. Foi ele quem indicou aos sacerdotes judeus o local onde Jesus estava, facilitando assim sua prisão.
Segundo os Evangelhos, os outros apóstolos e um pequeno grupo de discípulos passaram a divulgar os ensinamentos de Jesus, conquistando comunidades que abraçavam a nova crença. Jesus passou a ser chamado de o Cristo, que quer dizer ungido (aquele que se tornou sagrado). Seus seguidores receberam o nome de cristãos.
Alguns apóstolos e seguidores de Cristo começaram a viajar para fazer o trabalho de pregação. O principal desses pregadores chamava-se Paulo, cujo nome original era Saulo.
Saulo era um judeu fervoroso e combatia os cristãos. Mas em certo momento converteu-se à nova religião e passou a divulga-la em muitos lugares. Preso em Jerusalém, devido à sua importância foi enviado a Roma.
Também Pedro, nomeado por Jesus chefe dos apóstolos, decidiu sair do meio dos judeus para converter outros povos. Foi assim que chegou a Roma, onde, após organizar uma comunidade de cristãos, acabou preso e condenado à morte. Pedro foi crucificado; Paulo, que tinha cidadania romana, foi morto pela espada.
A Última Ceia", de Leonardo da Vinci (Reprodução) Jesus e seus Doze apóstolos
No centro do Império
Os romanos costumavam ser tolerantes com as religiões dos povos conquistados, desde que elas também fossem politeístas. Era comum que os romanos introduzissem seus deuses na cultura de outros povos e também adotassem os deuses desses povos.
Mas, ao afirmarem que existia apenas um Deus, os cristãos se recusavam a cultuar os deuses romanos, incluindo o próprio imperador. Por isso eram vistos como uma ameaça política.
Para evitar problemas com as autoridades romanas, os cristãos precisavam se esconder para fazer suas orações e reuniões. Chegaram a aproveitar túneis que haviam sido escavados nos arredores de Roma para retirar areia de construções. Esses esconderijos, chamados catacumbas, abrigavam salas de orações. de reuniões, salas para idosos e doentes.
Apesar de se esconderem para fazer suas práticas religiosas, os cristãos acabavam descobertos e perseguidos. As perseguições contra os primeiros cristãos não eram generalizadas, com exceção das que ocorreram em 249 e 303. Essas perseguições estavam voltadas especialmente a seus líderes e eram motivadas por movimentos populares, já que os cristãos eram tidos como responsáveis por calamidades.
Os relatos da história dos primeiros cristãos contam que os romanos promoviam espetáculos nos quais lançavam cristãos na arena para que fossem atacados e devorados por feras. Esses cristãos são chamados de mártires.
Os Mártires
O Diácono Sanctus suportava com força sobre-humana todos os suplícios que os carrascos podiam inventar. A todas as perguntas, ele respondia , em latim. ?Eu sou cristão?. Não se lhe podia arrancar outra resposta. Isso bastou para inflamar a ira do procônsul e dos carrascos; não tendo mais outro tormento à sua disposição, aplicaram-lhe chapas quentes nos lugares mais sensíveis do corpo. Mas, enquanto seus membros assavam, a sua alma não se dobrava, e ele persistia na sua confissão. [?]
Maturus e Sanctus sofreram de novo toda a série de suplícios como se nada tivessem sofrido anteriormente: as chicotadas, as mordeduras das feras que os arrastavam na areia, e tudo aquilo que o capricho de uma multidão insensata reclamava aos gritos; depois sentaram-nos na cadeira de ferro incandescente e, enquanto seus membros queimavam, a repugnante fumaça de carne assada enchia o anfiteatro.
Longe de tranqüilizar-se, o furor da multidão aumentava, querendo ver quebrada a resistência dos mártires, que ainda respiravam.
Blandina [moça cristã também torturada], durante todo esse tempo, ficou suspensa num poste e exposta às feras, mas nenhum animal tocou seu corpo. Tiraram-na do poste e a levaram para a prisão, à espera de outra sessão do espetáculo.
Blandina ficou para o fim. Após ter sofrido o azorrague (chicote), as feras, a cadeira de fogo, foi enrolada em uma rede e atirada diante de um touro. Este lançou-lhe várias vezes ao ar com os chifres; ela parecia nada sentir, toda entregue à sua esperança prosseguindo o colóquio (conversa) com Cristo. Finalmente, degolaram-na.
Carta dos Cristãos de Lião a seus Irmãos na Ásia, em 177. In: ISAAC, J. e ALBA, A. Roma. São Paulo: Mestre Jou, 1964, p. 195-6.