A Revolta da Vacina
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A Revolta da Vacina


O Rio de Janeiro, habitado por cerca de 700 mil pessoas nos primeiros anos do século XX, era uma cidade com graves problemas urbanísticos. As ruas eram estreitas e malcheirosas devido à quase total inexistência de um sistema de esgotos adequado.

Em 1902, ao assumir a Presidência da República, Rodrigues Alves deu plenos poderes ao prefeito Pereira Passos para promover uma reforma urbanística na capital do país. As obras foram concluídas em 1906.

 

Francisco Pereira Passos

 

Ao mesmo tempo que promovia uma reforma urbanística, o governo decidiu combater as doenças que afetavam a população do Rio de Janeiro. O médico sanitarista Oswaldo Cruz foi nomeado diretor-geral da Saúde Pública, com o objetivo de erradicar os agentes transmissores da peste bubônica (causada pela pulga dos ratos), da febre amarela (transmitida pelo mosquito Aedes aegypti) e da varíola (que se propaga pelo contato com as pessoas infectadas.

Oswaldo Cruz tomou várias medidas: iniciou uma campanha de caça aos ratos, organizou uma brigada de guardas-sanitários que percorriam as residências eliminando focos do mosquito transmissor da febre amarela; conseguiu, em 1904, a aprovação de uma lei tornando obrigatória a vacinação contra a varíola.

 

Oswaldo Cruz 

 

Por uma série de razões, a população se rebelou contra essas iniciativas. Os seguidores do positivismo, que na época eram muito numerosos, alegavam que a obrigatoriedade era uma violação à liberdade individual. Para os adeptos de religiões de origem africana, a varíola era uma doença sagrada, que não podia ser combatida dessa maneira.

Muitas pessoas já estavam descontentes com as reformas urbanas promovidas por Pereira Passos. Ao saber que a vacina era feita do próprio vírus da varíola, achavam que o governo queria "envenenar" a população mais pobre.

Para piorar a situação, muitos homens não permitiam que os funcionários públicos segurassem o braço de suas esposas e filhas para aplicar a vacina por considerarem o ato uma ofensa.

Tantos desentendimentos culminaram em um levante, em novembro de 1904. No dia 13, o centro do Rio de Janeiro e os bairros da Tijuca, Gamboa, Saúde, Laranjeiras, Botafogo, Rio Comprido, Catumbi e Engenho Novo se transformaram em campo de batalha. Diversos bondes foram incendiados, lampiões de gás foram quebrados e barricadas foram construídas nas ruas. Cerca de trezentos cadetes da Escola Militar aderiram à rebelião.

As forças do governo responderam com bombardeios pela marinha e ataques do Exército. Ao todo morreram trinta pessoas, 110 ficaram feridas e 945 foram presas - das quais 454 enviadas para o Acre. No dia 16 de novembro, o governo revogou a obrigatoriedade da vacinação.

Ratos que valiam ouro

Para acabar com os ratos do Rio de Janeiro e erradicar a peste bubônica que eles transmitiam, o diretor-geral da Saúde Pública, Oswaldo Cruz, teve uma idéia genial. Montou brigadas mata-ratos. A tarefa de cada voluntário era eliminar cinco roedores por dia. Para cada rato caçado acima dessa cota, recebia-se 300 réis do governo!

Foi uma mina de ouro para os malandros. De olho na recompensa, houve quem se especializasse na criação doméstica de ratos, que eram vendidos ou depois de abatidos trocados por dinheiro. Conhecidos pela sua extraordinária capacidade de procriar, os bichinhos devem ter feito o pé-de-meia de muita gente. Mas a farsa foi descoberta e alguns criadores presos.

Ratos que valiam ouro. Nossa História, n.1o, agosto 2004, p.89

CARDOSO, Oldimar. coleção: Tudo é História. ensino fundamental.

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