O período denominado República da Espada foi considerada pela oligarquia cafeeira como um governo transitório. Segundo o ponto de vista desse grupo, finda a tarefa de consolidação da República, O Exército deveria voltar aos quartéis.
O poder ficou nas mãos da oligarquia dos dois maiores estados produtores e exportadores de café, isto é, Minas Gerais e São Paulo. Os dois estados sozinhos produziam quase 50% de todas as nossas exportações.
O Estado que se instalou depois de 1894 representou, sem dúvida, os interesses dos grandes cafeicultores, que não hesitaram em usar todo o poder para garantir o domínio político sobre toda a nação.
Quando Prudente de Morais assumiu a presidência, em 1894, teve o cuidado de incluir alguns partidários do florianismo em seu ministério. Esperava, assim, diminuir possíveis contestações vindas desse grupo.
Prudente de Morais
Prudente iniciou seu governo pacificando a região Sul do país, devastada pela chamada Revolução Federalista.
Em 1895, sob a responsabilidade do barão do Rio Branco, resolveu um litígio fronteiriço entre Brasil e a Argentina, envolvendo territórios na região das Missões.
Por questões de saúde, o presidente Prudente de Morais precisou ausentar-se por quatro meses. Nesse mesmo momento, iniciou-se um conflito social nos sertões da Bahia, que deu origem à conhecida Guerra de Canudos. Os republicanos tiveram as mais variadas reações, mas quase todas elas agressivas em relação ao levante popular. Manuel Vitorino Pereira, vice-presidente que assumiu a chefia do governo da República na ausência de Prudente, quis acabar com o movimento com métodos mais radicais. Não contava com a resistência prolongada dos sertanejos da Bahia.
A Guerra de Canudos
Toda a região do Nordeste passava por aguda crise econômica, deixando a maioria da população do campo em estado de miséria. Depois de 1877, quando teve início um longo período de secas, a miséria e a fome se acentuavam nos seringais, mas a maioria permanecia na região.
Os homens livres que trabalhavam na terra de algum grande latifundiário tinham, de certa forma uma segurança e uma proteção. Com a crise, até esse tipo de trabalho havia desaparecido. A maioria da população sentia-se desamparada e vagava pelos sertões. Alguns se transformavam em bandidos, formando grupos religiosos messiânicos, esperando um milagre dos céus para livrá-los da miséria.
Foi de um desses grupos messiânicos que vagavam pelo sertão da Bahia que surgiu um líder conhecido com o nome de Antônio Conselheiro. Conselheiro reuniu vários adeptos percorrendo os sertões e fazendo pregações religiosas, ajudando os pobres em suas colheitas e em pequenas construções. Havia entre eles uma grande solidariedade e um forte sentimento de comunidade.
O início dos conflitos
Enquanto a fama de Antônio Conselheiro aumentava com o auxílio que prestava aos pobres, a Igreja não admitia suas práticas religiosas. O governo da Bahia começou a perseguí-lo, temendo possíveis agitações. Antônio Conselheiro ganhou dois poderosos inimigos: o Estado e a Igreja.
Antônio Conselheiro
Mesmo assim ele prosseguiu em suas pregações e, juntamente com seus adeptos, formou um acampamento nas margens de um rio em uma fazenda abandonada chamada Canudos.
Em Canudos, Conselheiro fazia suas pregações religiosas, mas também emitia suas opiniões políticas. Atacava o governo da República, responsabilizando-o pelo estado de miséria do povo. Antônio Conselheiro dizia que na época do Império não havia essa situação de miséria. A República, segundo a visão do beato, era a responsável pela miséria do povo porque provocou a ira de Deus quando separou a Igreja do Estado.
Os republicanos, por sua vez, tacharam-no de monarquista perigoso.
O arraial de Canudos, como ficou conhecido, chegou a ter mais de 30 mil habitantes. Era uma verdadeira cidade de casebres. Para administrar essa "cidade", Conselheiro havia criado um corpo de auxiliares que organizava a distribuição de alimentos, as práticas religiosas e a defesa.
Preocupavam-se com a defesa, pois eram constantemente ameaçados pelos grandes fazendeiros locais, conhecidos como coronéis, porque a popularidade de Conselheiro diminuía a autoridade deles: eram ameaçados pela Igreja, porque as pregações de Antônio Conselheiro eram vistas como uma heresia anticatólica; eram ameaçados pelo governo central da república, porque Conselheiro e seus adeptos eram vistos como perigosos monarquistas.
Os primeiros ataques contra Canudos começaram pelo governo da Bahia. Os cem soldados enviados em novembro de 1896 para dispersar os seguidores de Conselheiro, foram expulsos depois de alguns combates. Morreram dez soldados.
O governo Federal contra Canudos
O governo Federal assumiu a responsabilidade na repressão ao foco de "monarquistas subversivos", como eles ficaram conhecidos. Mais de seiscentos soldados armados de fuzis e dois canhões seguiram para a Bahia. No dia 2 de janeiro de 1897, os seguidores de Conselheiro derrotaram os soldados e ainda lhe tomaram as armas, inclusive os canhões. No Rio de Janeiro, a notícia caiu como uma bomba, pois os republicanos radicais achavam que eram uma guerra para restaurar a monarquia.
Uma nova expedição, de 1 600 soldados, foi organizada, sob o comando do coronel Moreira César, em março de 1897, mas também esta foi derrotada pelos conselheiristas.
"Oitocentos homens desapareceriam em fuga, abandonando as espingardas; ariando as padiolas em que se estorciam os feridos; jogando fora as peças de equipamento; desarmando-se (...) e correndo ao acaso (...)". Assim descreveu Euclides da Cunha a fuga da força do governo que, no dizer dos sertanejos de Canudos, havia se transformado na fraqueza do governo.
A derrota governista aumentou a convicção entre os republicanos mais radicais de que Canudos era um perigoso e bem armado foco monarquista. Por essa razão, nova e poderosa expedição contra os sertanejos foi preparada. Quase 10 mil soldados, comandados pelo general Arthur Guimaraes, partiram para os sertões da Bahia com a missão de não deixar pedra sobre pedra no arraial de Canudos.
Os primeiros combates deram-se em julho de 1897. Os sertanejos mais uma vez mostravam-se superiores num terreno que lhes era familiar. Trezentos seguidores de Conselheiro conseguiram deter mais de 2 500 soldados por vários dias, provocando mais de mil baixas nas forças do governo. Depois de mais de dois meses de luta, os sertanejos não puderam resistir a uma força muitas vezes maior do que as suas. No dia 5 de outubro de 1897, cessou a resistência no arraial de Canudos. Praticamente não houve sobreviventes, a não ser "um velho, dois homens feitos e uma criança", como relatou Euclides da Cunha.
PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental. ensino médio. volume único
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