O Renascimento Científico (Parte I)
Roger Bacon (c.1222-c.1292)
O respeito supersticioso ao "argumento de autoridade", sobretudo à opinião de Aristóteles, associada ao "método escolástico!, paralisaram todo o espírito de pesquisa, observação e experiência e, por conseqüência, provocaram um verdadeiro retardamento do conhecimento científico. Alguns poucos na Idade Média chegaram a reconhecer a superioridade do método experimental e a importância da matemática, como Roger Bacon. Afirmava ele ainda no século XIII: "Todas as categorias dependem do conhecimento da quantidade, assunto de que tratam as matemáticas, pelo que todo o poder da lógica depende das matemáticas (...) Nas coisas do mundo, no que se refere às suas causas eficientes e geradoras, nada se pode conhecer sem o auxílio da geometria". Bacon esteve na Universidade de Paris, fez comentários sobre Aristóteles, aprendeu o grego, escreveu uma gramática da língua grega e provou que vários textos da Bíblia e de Aristóteles estavam adulterados e errados. Como dedicava-se à Ciência, foi posto sob vigia, e muitos escritos seus foram proibidos de circular. Em 1257, São Boaventura, o Geral da Ordem dos Franciscanos, à qual pertencia, colocou-o sob vigilância em Paris, proibindo a publicação de seus escritos. Chegou a ficar encarcerado durante 14 anos por determinação do Geral da Ordem dos Franciscanos devido ao que escrevera.
Guilherme de Occan (1270-1347)
Devemos a alguns pensadores críticas contundentes que passaram a fazer ao tipo de ensino e de estudo que se tinha nas universidades. São Tomás de Aquino havia tentado conciliar a fé e a razão. Desde o século XIII seu esforço sofrera algumas críticas por certos sábios como Siger de Brabante (1235?-1281) e Duns Scoto (1265?-1308), que consideravam inconciliáveis fé e razão. No século XIV a crítica a São Tomás tornou-se mais intensa sobretudo pelo mestre inglês da Universidade de Paris, Guilherme de Occan, a religião separa-se da razão. No plano religioso, o pensamento universitário chegava a um impasse. Para Occam não se tratava de ficar pesquisando sobre questões sobrenaturais (metafísica), mas o homem poderia por sua vez, estudar os fenômenos naturais (física), separando desta maneira a ciência da religião. Esta separação facilitou o trabalho dos estudiosos. Foram possíveis sucessos importantes na matemática, na mecânica, e passou-se a ter uma preocupação maior com a observação e as medidas. Começam a ser utilizados os primeiros relógios, fazem-se os primeiros mapas com maior precisão; o custo da resistência da água permitiu aplicações práticas como a construção de eclusas e bombas hidráulicas.
Francesco Petrarca (1304-1374)
Além das críticas mais gerais como as de Guilherme de Occam, que procurava separar fé e razão, vieram outras críticas especialmente à submissão ao "argumento de autoridade" e à "dialética" que se praticava na universidade.
Neste sentido, afirmava Petrarca: "Esta tagarelice dos dialéticos que jamais tem fim, formigueiro de definições atrapalhadas, objeto de disputas eternas... Porque trabalhar sem cessar no vazio, ó infelizes, e exercitar o espírito com sutilezas? Porque esquecer a realidade das coisas para envelhecer enredado nas palavras, e, com cabelos brancos e fronte enrugada, se ocupar sempre com infantilidades? Pediria a Deus que suas loucuras fossem nocivas só a vocês, entretanto, com freqüência estragaram as mais nobres inteligências!" Quando lhe respondiam que os sábios baseavam-se na autoridade de Aristóteles, foi um dos poucos homens naquela época que teve a coragem de colocar em dúvida o próprio Aristóteles. Dizia Petrarca: "Certamente, acho que Aristóteles foi um grande homem e grande sábio, entretanto não foi mais do que um homem, pode ter ignorado algumas ou mesmo muitas coisas..."
Expansão das Novas Atitudes
A expansão deste novo tipo de comportamento foi muito beneficiada por dois importantes fatos. A conquista pelos turcos de Constantinopla (1453) e o desenvolvimento da imprensa (1457). A Tomada de Constantinopla provocou um êxodo em direção à Itália de muitos sábios que lá viviam e dominavam o grego. Só o cardeal Bessarion (1393-1472) reuniu seiscentos manuscritos gregos que lhe custaram uma fortuna e legou-os à cidade de Veneza. A renovação do estudo do grego, e o que era importante, diretamente nas fontes, teve uma importância excepcional, pois, por exemplo, o que se estudava de Aristóteles até então era uma versão latina traduzida do árabe, que por sua vez fora traduzida do grego. Inúmeras distorções eram inevitáveis. A imprensa, ao baratear o custo do livro, permitiu que tais originais pudessem ser reproduzidos, e o livro deixou de ser monopólio de uns poucos professores da universidade: agora se podia confrontar a opinião do professor com textos originais que pretendia reproduzir em suas exposições orais.
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