Dois crânios humanos muito antigos, desenterrados em locais tão distantes quanto o Vale do Ribeira, em São Paulo, e o Vale Central do México, estão ajudando a confirmar uma hipótese sobre o povoamento das Américas que costumava provocar risadas nos arqueólogos há muito tempo: e de alguns dos primeiros habitantes do continente eram mais parecidos com os aborígenes da Austrália do que com os índios atuais.
Os fósseis tem 8,8 mil a 10,7 mil anos, respectivamente, e estão entre os vestígios humanos mais antigos do continente. Medições realizadas em ambos mostram que eles eram fisicamente semelhantes a Luzia, a brasileira de traços africanos de 11 mil anos de idade que virou celebridade e se tornou símbolo da nova teoria.
A hipótese tem sido proposta desde 1989 pelo cientista Walter Neves, hoje professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), e seu colega Héctor Pucciarelli da Universidade de La Plata, Argentina.
Para Pucciarelli e Neves, a povoação do continente americano teve dois componentes biológicos: os primeiros povoadores das Américas vieram da Ásia, mas não eram mongolóides (asiáticos típicos), e sim ?australo-melanésios?, embora não seja possível dizer se tinham pele negra, como os aborígenes.
Essa população teria cruzado o estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca, há cerca de 15 mil anos, tendo sido extinta devido a algum tipo de competição com os mongolóides, o segundo componente biológico a povoar o continente americano.