A escravidão existia no continente africano desde a Antiguidade. Inicialmente, era doméstica e inexpressiva, também conhecida como escravidão "de linhagem" ou "de parentesco". Em geral, funcionava à margem da sociedade, sem que houvesse uma classe claramente definida de escravos. Boa parte do continente africano era constituída de comunidades em que as funções sociais eram assentadas na etnia e no parentesco. Nelas, os mais velhos tinham o controle da produção e o acesso às mulheres - estas eram as principais trabalhadoras agrícolas. Dessa forma, os cativos estavam também subordinados aos mais velhos e misturados aos demais membros da sociedade, muitas vezes exercendo funções similares às de outros membros do grupo. Essa sociedade familiar, definindo suas áreas de influência, foi responsável pelas fronteiras africanas entre estados e aldeias, formando inúmeros domínios distintos, subordinados aos seus chefes, os sobas. Indivíduos eram escravizados pelos mais variados motivos: por condenações a crimes ou bruxaria; por dívidas; por serem prisioneiros de guerra; para servirem como penhor (garantia de pagamento) etc.
A chegada dos islâmicos, e principalmente a dos europeus, na Idade Média, a partir do século XV, afetaria profundamente esse quadro. Europeus e islâmicos intensificaram e dinamizaram o tráfico e a escravidão africana. Até então o tráfico de africanos havia sido feito por fenícios e cartaginenses, sucedidos depois pelos romanos. A milenar escravidão continuaria por muitos séculos em todo mundo, só terminando formalmente, na África, no século XX. Entretanto, cabe perguntar. "De lá pra cá, rapto de mulheres, etíopes ou outras, por príncipes árabes dos Estados do Golfo não constituiria uma sobrevivência dessas práticas acobertadas pelo 'respeito à tradição'?"
De início, a obtenção de escravos africanos pelos islâmicos fez-se com a expansão territorial. Posteriormente, africanos escravizados eram conseguidos nas rotas comerciais transaarianas e nas do Mar Vermelho e do Oceano Índico. Estima-se que, no período de 650 a 1600, o tráfico de escravos através do Saara tenha chegado a um total aproximado de 4,82 milhões de cativos. Pela costa oriental (Mar Vermelho e Oceano Índico), entre os anos de 800 a 1600, supõe-se que esse comércio teria chegado a um total de 2,4 milhões de escravos.
Veja Tabela:
Tráfico de escravos transaariano (650-1600) |
Período | Média Anual | Total estimado |
650-800 | 1 000 | 150. 000 |
800-900 | 3 000 | 300. 000 |
900-1 100 | 8 700 | 1.740.000 |
1 100-1 400 | 5 500 | 1.650.000 |
1 400-1 500 | 5 300 | 430.000 |
1 500-1 600 | 5 500 | 550.000 |
Total | ____ | 4 820.000 |
fonte: AUSTEN, 1979, p. 66. In: LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma história de suas transformações, Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2002. p. 61
Tráfico de escravos no Mar Vermelho e na África Oriental (800-1600) |
Costa do Mar Vermelho | Costa da África Oriental | Total |
1.600.000 | 800.000 | 2.400.000 |
fonte: AUSTEN, 1979, p. 68. In: LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 61
Cláudio Vicentino. Gianpaolo Dorigo. História para o Ensino Médio. História Geral e do Brasil. ensino médio. volume único.
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