Na época em que colonizaram a América, Espanha e Portugal eram governados por reis absolutistas. As colônias na visão desses governantes, serviam para enriquecer suas metrópoles.
A fim de extrair o máximo rendimento das colônias, os reis adotavam medidas mercantilistas. Uma delas era o monopólio: as colônias só podiam comerciar com a metrópole. A colônia que hoje corresponde ao México só podia comerciar com a Espanha; o Brasil só podia comerciar com Portugal. Outra medida mercantilista estava relacionada à administração da colônia: era o governo da metrópole que criava as leis e os impostos e nomeava os funcionários para as colônias, encarregados de fazer cumprir as leis.
No século XVIII, com o crescimento das colônias e o enriquecimento da elite colonial, esse sistema de dominação, hoje denominado antigo sistema colonial, começou a ser duramente criticado. Já não atendia aos interesses dos colonos que desejavam comerciar livremente com vários países.
A Revolução Industrial e a Independência dos Estados Unidos também contribuíram para a crise do sistema colonial. Com a Revolução Industrial, os industriais ingleses queriam aumentar cada vez mais a venda de seus produtos. Para que pudessem comerciar livremente com os países latinos, era necessário que esses ´países se tornassem independentes. Por isso a Inglaterra passou a apoiar os movimentos de liberação das colônias da América espanhola e portuguesa. A luta de Independência dos Estados Unidos ocorrida de 1775 a 1781, serviu de incentivo a outras colônias americanas.
Opressão na América Espanhola
No final do século XVIII, a opressão da Espanha sobre suas colônias americanas se intensificou, pois a monarquia espanhola se envolveu em guerras e necessitava de dinheiro. Para obte-lo, aumentou os impostos nas colônias e a aperfeiçoou os meios de cobrança.
Nos últimos 25 anos do século XVIII, as colônias enviaram em impostos a Espanha, a cada ano, cerca de 10 milhões de pesos (moeda espanhola feita de ouro ou de prata). Cerca de 75% dessa quantia saía do México, que na época tinha o nome de Vice-Reinado da Nova Espanha.
Além de levar riquezas das colônias, a Espanha oprimia os colonos, proibindo-os de montar manufaturas. Muitas manufaturas têxteis, chamadas na América espanhola de obrajes, foram destruídas a mando das autoridades espanholas. A produção de seda na América foi liquidada. Toda essa opressão causava enorme descontentamento entre os habitantes das colônias.
Sociedade e Poder
Nas sociedades coloniais hispano-americanas, havia basicamente cinco grupos sociais: chapetones, criollos, mestiços e negros escravizados.
Construção do Palácio de Cortez, de Diego Rivera (1886-1957)
Os chapetones, colonos nascidos na Espanha, ocupavam todos os principais cargos administrativos, militares e religiosos. No México de 1808, o vice-rei e todos os seus funcionários, os militares com patente de capitão ou superior e quase todos os bispos eram espanhóis de nascimento.
Os criollos eram os descendentes de espanhóis nascidos na América. Eram ricos fazendeiros, donos de minas e grandes comerciantes. Alguns possuíam formação universitária. Apesar de serem descendentes de espanhóis e de muitos deles conseguirem comprar títulos de nobreza, eram impedidos de ocupar altos cargos no governo, no exército e na Igreja. No México, em 1808, havia apenas um bispo criollo. Isso nos ajuda a entender porque os criollos lideraram as lutas pela independência na América espanhola.
Os mestiços eram maioria nas cidades. Eram filhos de espanhóis ou de criollos com índias ou africanas. Nascidos quase sempre de relações ocorridas fora do casamento, eram vistos como ilegítimos, sendo por isso proibidos de usar armas, ouro e roupas de seda. Ocupavam funções de pouco prestígio naquela sociedade: pedreiros, carpinteiros, ferreiros, capatazes de fazenda, soldados; na hierarquia da Igreja católica, permaneciam como simples padres.
Os indígenas, que constituíam a maioria da população, eram duramente explorados nas fazendas, onde muitas vezes se tornavam "escravos" por dívidas. Nas manufaturas e nas minas, trabalhavam por baixíssimos salários. Além disso, sofriam discriminação racial.
No final do século XVIII, era pequeno o número de africanos escravizados na América espanhola. Eles estavam presentes no litoral da Colômbia, Equador e Venezuela, onde trabalhavam principalmente nas grandes plantações de cacau. Já nas Antilhas - ilhas espanholas, francesas, inglesas e holandesas da América Central -, o número de negros escravizados era grande. Eles trabalhavam sobretudo nas extensas plantações de cana. Sozinho, o Haiti abrigava um terço dos negros que viviam nas Antilhas.
BOULOS JUNIOR, Alfredo. coleção História Sociedade & Cidadania. ensino fundamental.