Jânio Quadros tinha um estilo muito pessoal de falar ao povo, dirigindo apelos que atraíam os pobres e os desempregados. O candidato fazia verdadeiras representações teatrais em público, sempre malvestido, para demonstrar sua ligação com o povo. Mesmo alguns socialistas e dissidentes do PTB se sentiam atraídos pelo seu discurso, aparentemente progressista.
Jânio da Silva Quadros (1917-1992)
Jânio da Silva Quadros. Advogado e professor. Em 1947, foi eleito vereador em São Paulo pelo Partido Democrata Cristão. Deputado estadual em 1951, dois anos depois elegeu-se prefeito de São Paulo e, em 1954, governador do Estado. Em 1960 chegou à Presidência da República. Renunciou ao mandato em agosto de 1961. Com o golpe de 1964, teve seus direitos cassados por dez anos. De 1985 a 1989, foi de novo prefeito de São Paulo.
Os primeiros momentos do governo Jânio Quadros
Jânio foi o primeiro presidente a tomar posse na nova capital, Brasília. O vice-presidente eleito foi João Goulart, líder trabalhista do PTB, que não era da coligação janista. Na época era possível votar no candidato de uma chapa para presidente e no candidato a vice de outra chapa. Curiosamente, podemos dizer que as forças políticas mais à direita ganhariam as eleições para a presidência e que forças mais à esquerda ganharam as eleições para a vice-presidência.
Empossado, Jânio Quadros perdeu o dinamismo que havia mostrado na campanha. Como disse o udenista Afonso Arinos, finda a batalha política, ficou perplexo, incerto, com a bandeira da vitória nas mãos sem saber o que fazer dela.
Sem um programa claro, Jânio confundia governar com punir, e administrar com proibir. Pautado por questões menores, não voltou a sua atenção para os grande problemas nacionais. Estava mais preocupado em proibir corridas de cavalos nos dias de semana, biquínis nas praias e o uso do tradicional lança-perfume. Por outro lado, tomou medidas de caráter punitivo e vingativo contra getulistas e partidários de JK, provavelmente atendendo à vontade dos políticos conservadores e reacionários da UDN.
O ministério escolhido por Jânio Quadros demonstrou seu autoritarismo e reacionarismo. Uma mistura de várias tendências partidárias, mas quase todas bastante conservadoras. Um ministério nas mãos de Jânio.
Também contou com a colaboração de militares que iriam ficar mais conhecidos depois do golpe de Estado de 1964: Golbery do Couto e Silva, João Baptista Figueiredo, Mario Andreazza e outros tantos.
As contradições políticas e econômicas do governo Quadros
Jânio costumava dizer que governava acima dos partidos e que não tinha compromissos com ninguém. Essa imagem de independência só foi possível porque o sistema partidário montado por Getúlio Vargas, baseado na aliança PSD/PTB, havia entrado em profunda crise. Jânio criticava abertamente todos os partidos, espacialmente o PTB, ligado aos sindicatos dos trabalhadores. A UDN também passou a ser alvo de suas críticas e, por essa razão, Carlos Lacerda, que havia sido importante aliado, passou a combater o presidente.
Para Jânio Quadros, o Estado era incompetente para gerenciar. Assim, ele pretendia reverter os planos de nacionalização de importantes setores da economia, feitos na época de Vargas. Seguia uma política liberal no campo econômico, submetendo-se às imposições do Fundo Monetário Internacional.
Impôs um tratamento de choque para eliminar a inflação. Essa medida exigia o congelamento dos salários, o fim dos subsídios aos alimentos, principalmente ao trigo, e aos combustíveis. Os resultados foram imediatos: o preço do pão e das passagens de ônibus subiu. E quem sofreu mais foi o trabalhador brasileiro.
Para poder pôr em prática todas essas medidas, Jânio baixou a instrução 204 da Sumoc, desvalorizando o cruzeiro em mais de 100%, medida que beneficiou a burguesia e os investidores estrangeiros.
Os descontentamentos aumentavam a cada dia que passava, mas Jânio insistia em manter sua política antipopular. Uma crise política estava para acontecer.
PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental. ensino médio. volume único.
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