A conjuntura nacional depois da morte de Vargas
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A conjuntura nacional depois da morte de Vargas


Com a morte de Vargas, a presidência foi ocupada pelo vice, Café Filho, membro do Partido Social Progressista, do paulista Adhemar de Barros.

Café Filho, além de comprometido com as forças que tentaram depor Vargas, era politicamente frágil, sem o apoio do PSD e do PTB, os dois partidos que sustentaram Vargas no poder. A UDN, o maior partido de oposição ao nacionalismo de Vargas, aproximou-se de Café Filho. A maioria dos ministros foi indicada pelos políticos udenistas.

O ministério de Café Filho pautava-se pelo conservadorismo, e o melhor exemplo era o da Fazenda, que ficou nas mãos de Eugênio Gudin, franco partidário da política recessiva proposta pelo FMI, o Fundo Monetário Internacional, que sempre defendeu os interesses dos banqueiros internacionais.

A oposição ao governo Café Filho não tardou a ser articulado pelo PTB e por setores do PSD, que exigiam uma política mais nacionalista. Os parlamentares desses partidos contavam com o apoio de nacionalistas do exército e de amplos setores sociais.

O Ministério da Guerra ficara com o general Henrique Teixeira Lott, conhecido por sua imagem de militar apolítico. Mas, na verdade, sua força vinha exatamente de ter adotado uma posição que não entrasse em choque com os altos comandos militares e não demonstrasse claras simpatias pelos governos civis.

A política econômica e as eleições parlamentares

O ministro Eugênio Gudin baixou a instrução 113 da Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito), que permitia o investimento estrangeiro sem restrições, fato que se chocava com o nacionalismo dos getulistas e provocava a oposição dos trabalhadores e dos empresários que dependiam do Estado para desenvolver suas atividades.

Gudin, por seu lado, tentou diminuir os gastos públicos, aplicando um tratamento de choque contra a inflação. Seguia a risca as orientações do FMI, tentando diminuir os salários e adotando medidas recessivas para conter a inflação.

Nesse clima de crise política e econômica, aconteceram as eleições parlamentares de outubro de 1954. Nessas eleições o PTB aumentou o número de deputados, o PSD sofreu pequena queda e a  UDN foi a grande perdedora.

O PSD, aliado ao PTB, tinha uma confortável maioria na Câmara, mostrando a força dos getulistas. Como disse Abelardo Jurema, importante político da época:

Vargas comandava do túmulo os acontecimentos. Sua carta-testamento era uma bíblia. O seu nome, um hino...A vingança do morto se fazia sentir, dia a dia, mês a mês, até que Juscelino Kubitschek assume, levantando de novo, de fato e de direito, a bandeira PSD/PTB, sob a égide (escudo,defesa) da imagem de Vargas.

A UDN era o partido que mais se ressentia dessa presença fantasmagórica de Getúlio Vargas e do sindicalismo por ele deixado como herança. Por isso, ele conspirava, tentando impedir as eleições presidenciais que se aproximavam.

A aliança entre o PSD e o PTB possibilitou o lançamento de um forte candidato à presidência: Juscelino Kubitschek (JK), que fora governador de Minas Gerais pelo PSD e se tornou bastante popular por ter realizado várias obras modernizadoras no estado.

A UDN apoiou a candidatura de Juarez Távora, lançada pelo Partido Democrata Cristão, PDC. Ela temia a volta do vanguardismo ao poder com Juscelino.

A candidatura de JK recebeu o apoio de diferentes setores da sociedade brasileira, como de uma parcela da burguesia, que esperava o retorno de uma política industrial nacionalista e modernizadora. Setores da mídia não vinculados aos tradicionais jornais, especialmente a revista Manchete, ajudaram a difundir uma imagem positiva de Juscelino: sorridente, simpático e moderno. O candidato era apoiado ainda pelos sindicatos vinculados ao PTB, que indicou João Goulart, que foi ministro do Trabalho do governo de Getúlio, para vice-presidente na chapa de Juscelino.

O resultado final das eleições de 3 de outubro de 1955 deu a vitória a Juscelino Kubitschek, eleito com 36% dos votos. Em segundo lugar ficou Juarez Távora, o candidato apoiado pela UDN, com 30%. João Goulart, o vice de Juscelino, foi eleito com 500.000 votos a mais do que ele, demonstrando que a maioria do povo brasileiro ainda depositava suas esperanças no getulismo. "Vargas não morreu", repetia-se na época.

A UDN conspirava no sentido de anular a eleição e mesmo impedir a posse dos eleitos. Um constante clima de golpe permaneceu durante os meses entre a eleição e a posse de JK e João Goulart.

A instabilidade política

Nos meios militares conservadores, fortemente unidos à UDN, formou-se a chamada Cruzada Brasileira Anticomunista. Para os seus membros, JK e João Goulart não eram qualificados para exercer os cargos para os quais haviam sido eleitos. Diziam que os eleitores eram marginais manipulados pelos comunistas. Além do mais, argumentavam que Juscelino não fora eleito pela maioria absoluta e, por isso, não poderia tomar posse. Era o mesmo argumento que os conservadores haviam utilizado para tentar impedir a posse de Vargas em 1951.

Em novembro de 1955, os golpistas viram uma oportunidade para impedir a posse dos eleitos: o presidente Café Filho se afastara da presidência por motivos de saúde e fora substituído interinamente por Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, da UDN.

O ministro da Guerra, general Lott, havia proibido aos militares manifestarem-se publicamente sobre assuntos políticos, mas, mesmo assim, o coronel Bizzaria Mamede fez um discurso propondo o impedimento da posse de Juscelino e Goulart. Imediatamente, Lott pediu autorização ao presidente interino para punir o coronel que infringira suas ordens. Carlos Luz não quis dar autorização, e Lott pediu demissão do cargo de ministro da Guerra no dia 10 de novembro de 1955. Os golpistas exultaram com a aparente vitória.

Na madrugada de 11 de novembro, o general Lott tomou militarmente a cidade do Rio de Janeiro. Carlos Luz, Lacerda e outros golpistas tentaram uma pequena reação, mas fugiram no navio Tamandaré. o presidente deposto foi substituído por Nereu Ramos, presidente do Senado. Esse contragolpe garantiu a posse dos eleitos.

A partir daí, Lott passou a ser conhecido como militar legalista, isto é, fiel aos parceiros da Constituição brasileira. Na verdade, a preocupação de Lott era mais relacionada à própria manutenção da hierarquia interna do exército, contra as manifestações de indisciplina.

PEDRO, Antônio. História da civilização ocidental. ensino médio. volume único.

Technorati Marcas: Café Filho,eleições,Juscelino Kubitschek,João Goulart

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